segunda-feira, 2 de abril de 2012

Degustando Pina Bausch.

Misto de claro e escuro, cheio e vazio, completo e nada.  Para entrar no universo de Pina é preciso um pouco de feitiçaria. Conheci Pina faz poucos anos e desde então fiquei enfeitiçado por aquela mulher magra, de semblante doce e forte ao mesmo tempo. Nunca tive a oportunidade de ver ao vivo um de seus ESPETÁCULOS, mas os mesmos estavam circulando na minha mente.
Inspirado pelo filme de Wim Wenders, “PINA”, não tive dúvidas: Pina Bausch merecia um jantar. O filme é lindo e mostra um pouquinho das criações da bailarina. Resolvi pesquisar um pouco mais e criar o jantar. Não a partir do filme, e sim do que me tocava quando lembrava de Pina Bausch.
Queria um menu que lembrasse as criações da artista. Busquei os riscos, emoções, medos, sonhos e tudo que pode tocar qualquer mortal. Acabei criando-o a partir dos principais espetáculos de Pina (Rough Cut / Acqua / Lenda de Castidade / Vem, Dança Comigo / Café Muller).
Quando quero uma coisa, quero logo (para variar). Não tinha muito tempo para fazer o jantar (também para variar). Dessa vez, o jantar foi na minha casa e queria que os poucos convidados tivessem algum conhecimento sobre a artista. Tentei ambientar com o mínimo de elementos, marca registrada de Pina. Quando os convidados chegaram, encontraram as
cadeiras do Café Muller, no chão:



Apaixonado pela artista que sou, já tinha alguma coisa do serviço inspirado nela. No ano 2010 o estilista Ronaldo Fraga criou peças para uma rede de lojas, não resisti e usei algumas no serviço:



No amouse, queria algo que lembrasse o meu primeiro contato com Pina. Diferente ao meu paladar, algo nunca antes sentido: um estranhamento. Condicionado ao espetáculo Rough Cout, inspirado na Coréia do Sul, servi Kimchi, que é uma conserva de repolho ou acelga, típica do país e presente em quase todas as refeições dos coreanos. Realmente é diferente, muito condimentada e, a princípio, estranho ao nosso paladar. Era o que eu queria para iniciar o jantar:



A entrada fez referência ao espetáculo Acqua, inspirado no Brasil. Queria uma cor vibrante e ingredientes que lembrassem o país. Mousseline de abóbora com carne seca:



O primeiro prato foi inspirado no espetáculo Lenda de Castidade. Fiz uma brincadeira com o tema e servi um prato com ingredientes “afrodisíacos”, contrapondo a castidade. Vieiras com açafrão e molho hollandaise com mel:



O segundo prato levou o titulo do espetáculo “Vem, dança comigo”. Foi realmente um convite. Os ingredientes típicos alemães foram dispostos no aparador: carne suína com seu próprio molho, calda de cerveja, ervas,  especiarias, mostarda e purê de maçã:




Cada comensal tinha que montar o seu prato. O elemento humano era o mais importante na situação. Os riscos, medos e anseios eram para ser dispostos ali. Observei que a maioria tentou usar todos os ingredientes dispostos. O resultado foi bem parecido na maioria dos pratos:



A sobremesa referenciava uma de suas mais famosas e importantes criações o “Café Muller”. Foi o espetáculo de Pina que mais me tocou. Queria que todos se envolvesse com a referência das cadeiras solitárias no início e resolvesse a solidão no final, com o próximo. Com isso, todos dividiram o mesmo prato. Rote Grünze é um prato típico da região de Wuppertal, cidade natal de Pina. Uma geléia caseira de frutas vermelhas, que geralmente é servida com creme de baunilha. Confesso que a simplicidade fez sucesso e foi uma delícia ver todos com sua colher dividindo o mesmo prato. Lembrando que o vermelho evoca o amor:



Que Pina continue permeando nossos sonhos e fantasias. Que o novo, o inédito, o espetacular... sempre estejam presentes nos nossos dias. Que o amor seja lembrado em cada gesto, em cada dor e que continuemos sempre assim:
AMANDO!!!
Acho que cada pessoa tem de descobrir isso por si só. Não se pode dar conselhos. Cada um tem sua maneira de coreografar. Claro que é muito bonito ter uma riqueza variada de possibilidades, alguma coisa ligando as diferentes artes. Mas não sei dizer se é ou não a melhor forma, podem ser muitas coisas juntas em harmonia. Formar escolas é perigoso, porque breca a fantasia. Me parece importante que as pessoas mudem os momentos de suas vidas. O sentimento sobre o que está acontecendo no mundo é sempre um novo momento.Pina Bausch

10 comentários:

  1. Mauro, estou arrepiada, encantada, você ainda me choca muito com seu talento. Viví essa experiência pela tela, que ainda que sem gosto e aroma valeu cada segundo.

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  2. e eu que vivi ao vivo só fico mais seu fã!
    parabéns amigo!

    bjo

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  3. Fantástico o post: o texto, o conceito, as fotos e, imagino eu, os pratos! Parabéns Mauro.

    Jaca.

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  4. CARACA!!! Estou pasma!! Incrível!!
    É Wim WenderS, gato.
    Bjs

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  5. sem palavras - invejável a idéia, a execução, o texto. forte abraço

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  6. Ba, me parece delicioso um jantar a Pina Bausch, mesmo eu não comendo carne a ideia em si é "deliciosa".

    Bem legal a criatividade.

    Eu gostaria de saber onde você leu mais sobre o espetáculo A lenda da Castidade, eu gostaria muito de saber mais sobre esse espetáculo, mas não acho... vc tem fontes?

    Obrigada!

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