segunda-feira, 23 de abril de 2012

Referências Potiguares.

Era um jantar especial. Pois receberia “oficialmente” uma amiga que foi morar na terra da rainha e está de volta ao Brasil, depois de seis anos.  É amiga de longa data e quando ela foi embora de Ribeirão Preto, sua família ainda morava aqui. Logo depois, a família largou tudo e foi viver na praia, lá no Nordeste. Especificamente em São Miguel do Gostoso-RN. Não sei o porquê, senti vontade de preparar um jantar com algumas referencias do Rio grande do Norte. Talvez isso me faz lembrar da família, que eu tanto sinto saudades.
Quem nasce no Rio Grande do Norte é chamado de POTIGUAR, que vem do tupi e quer dizer “comedor de camarão”. Sendo assim, camarão era fato consumado no jantar. Gostaria de usar alguns ingredientes típicos também. Câmara Cascudo me ajudou na pesquisa, já pensei em falar sobre ele aqui no blog, mas o dito cujo, merece um post exclusivo.
Queria montar uma mesa para dois e lembrei-me de um tecido LINDOOOO da AGain, que um amigo usou em uma de nossas confrarias. A estampa de bananas tem a cara daquela região e achei que ficou ótimo no contexto:

Durante minha pequena pesquisa, fiquei intrigado com um caldo que denomina-se “cabeça de galo” é típico do nordeste e tem a função, para eles, de curar a ressaca. Os ingredientes eram simples e extremamente “fortificantes”. O que foi ótimo, minha amiga estava passando, coincidentemente, por uma leve ressaca.  Escolhi para servir de entrada. O caldo é feito com cebola, alho, pimentão, tomate, farinha de mandioca e ovos. Surpreendi-me com o sabor, achei delicioso. Depois fiquei pensando que a abóbora, jerimum para eles, daria um toque interessante no prato:

Já tinha escolhido camarão para o prato principal e queria mais algum ingrediente típico, claro que optei pelo caju e saiu: arroz cremoso de camarão com caju. Tinha pensado em fazer o prato com arroz vermelho, muito comum na região. Mas o cozimento é demorado e não daria a cremosidade que eu queria. Achei a “cochambrança” interessante:

Pensei em algumas sobremesas e gostaria de usar macaxeira e carambola. Pensei, pensei, pensei  e resultou em uma Mousse de macaxeira com calda de carambola. Particularmente, achei interessante e “ponto”. Camila Romano adorou, falou que foi o melhor dos pratos:

Com tudo, quase matamos nossa saudade, foi uma noite deliciosa, clima agradável, onde me fez lembrar os tempos de outrora. Que delícia viver!!!
Beijos e abraços temperados.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Jantarzinho prático e rápido.



Não é só de conceito e novidade que vive uma cozinha. Não estou falando da nova onda “Comfort food”, mas a carapuça também serve. Estou falando de quando dá aquela vontade danada de comer pizza de tomate seco com rúcula, filé Chateaubriand, carne seca com abóbora,  queijo com goiabada e tantas outras combinações que permeiam nossas memórias e paladares. Bobo que sou, às vezes tenho vergonha na hora de servir alguma dessas. Não deveria! Faz parte da nossa história e a maioria dá muito certo.
Divaguei um pouco para falar de um jantarzinho que servi em casa um dia desses. Dia que amigos ligaram querendo ir para casa beber e conversar um pouquinho. Como sempre, fico atiçado e tenho que correr para cozinha. Mas esse dia eu queria curtir um pouco mais a mesa. Portanto, procurei ser prático e veio em minha memória um monte de receita pronta e combinações clichês que eu ainda gosto.
Tentei não perder tempo no supermercado e me virar com o que tinha na despensa e geladeira. Só tive que passar na quitanda e pegar algo para a salada. Sorte a minha, encontrei uma folhinha de beterraba baby linda e outros ingredientes que no final quase saiu uma Salada Waldorf, só que reinventada. Simples, rápido e bem gostoso pelo contexto:

Tinha um linguado na geladeira e lembrei-me de um risoto que um amigo me pedia para fazer há tempos. Voei para o clichê e fiz linguado em crosta de castanhas, acompanhado de risoto de pêra com gorgonzola:

Pessoal, posso me esconder debaixo da mesa agora? Servi sorvete na sobremesa! Eu odeio ir a um restaurante e tomar sorvete no lugar de sobremesa. Olho até com preconceito o cardápio que estampa o gelado em sua seção “Desserts”.  Mas (tentando justificar), aqui na minha cidade, Ribeirão Preto, tem uma sorveteria bastante tradicional e com uma qualidade incrível, difícil de ser encontrada em muitas outras por ai. O sorvete de lá é ótimo, sem nenhum conservante e outros aditivos dos tempos modernos. Apelei para o sorvete de goiaba, que pra mim, é o melhor de lá. É a própria fruta em outro estado. Servi com queijo cremoso e hortelã. Apesar de simples, ficou ótimo:

No final das contas, pude aproveitar um pouco mais a conversa agradável, todos os meus camaradas em volta da mesa e comer pratos que estava com vontade e não fazia há tempos.
Beijos e abraços temperados!!!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Degustando Pina Bausch.

Misto de claro e escuro, cheio e vazio, completo e nada.  Para entrar no universo de Pina é preciso um pouco de feitiçaria. Conheci Pina faz poucos anos e desde então fiquei enfeitiçado por aquela mulher magra, de semblante doce e forte ao mesmo tempo. Nunca tive a oportunidade de ver ao vivo um de seus ESPETÁCULOS, mas os mesmos estavam circulando na minha mente.
Inspirado pelo filme de Wim Wenders, “PINA”, não tive dúvidas: Pina Bausch merecia um jantar. O filme é lindo e mostra um pouquinho das criações da bailarina. Resolvi pesquisar um pouco mais e criar o jantar. Não a partir do filme, e sim do que me tocava quando lembrava de Pina Bausch.
Queria um menu que lembrasse as criações da artista. Busquei os riscos, emoções, medos, sonhos e tudo que pode tocar qualquer mortal. Acabei criando-o a partir dos principais espetáculos de Pina (Rough Cut / Acqua / Lenda de Castidade / Vem, Dança Comigo / Café Muller).
Quando quero uma coisa, quero logo (para variar). Não tinha muito tempo para fazer o jantar (também para variar). Dessa vez, o jantar foi na minha casa e queria que os poucos convidados tivessem algum conhecimento sobre a artista. Tentei ambientar com o mínimo de elementos, marca registrada de Pina. Quando os convidados chegaram, encontraram as
cadeiras do Café Muller, no chão:



Apaixonado pela artista que sou, já tinha alguma coisa do serviço inspirado nela. No ano 2010 o estilista Ronaldo Fraga criou peças para uma rede de lojas, não resisti e usei algumas no serviço:



No amouse, queria algo que lembrasse o meu primeiro contato com Pina. Diferente ao meu paladar, algo nunca antes sentido: um estranhamento. Condicionado ao espetáculo Rough Cout, inspirado na Coréia do Sul, servi Kimchi, que é uma conserva de repolho ou acelga, típica do país e presente em quase todas as refeições dos coreanos. Realmente é diferente, muito condimentada e, a princípio, estranho ao nosso paladar. Era o que eu queria para iniciar o jantar:



A entrada fez referência ao espetáculo Acqua, inspirado no Brasil. Queria uma cor vibrante e ingredientes que lembrassem o país. Mousseline de abóbora com carne seca:



O primeiro prato foi inspirado no espetáculo Lenda de Castidade. Fiz uma brincadeira com o tema e servi um prato com ingredientes “afrodisíacos”, contrapondo a castidade. Vieiras com açafrão e molho hollandaise com mel:



O segundo prato levou o titulo do espetáculo “Vem, dança comigo”. Foi realmente um convite. Os ingredientes típicos alemães foram dispostos no aparador: carne suína com seu próprio molho, calda de cerveja, ervas,  especiarias, mostarda e purê de maçã:




Cada comensal tinha que montar o seu prato. O elemento humano era o mais importante na situação. Os riscos, medos e anseios eram para ser dispostos ali. Observei que a maioria tentou usar todos os ingredientes dispostos. O resultado foi bem parecido na maioria dos pratos:



A sobremesa referenciava uma de suas mais famosas e importantes criações o “Café Muller”. Foi o espetáculo de Pina que mais me tocou. Queria que todos se envolvesse com a referência das cadeiras solitárias no início e resolvesse a solidão no final, com o próximo. Com isso, todos dividiram o mesmo prato. Rote Grünze é um prato típico da região de Wuppertal, cidade natal de Pina. Uma geléia caseira de frutas vermelhas, que geralmente é servida com creme de baunilha. Confesso que a simplicidade fez sucesso e foi uma delícia ver todos com sua colher dividindo o mesmo prato. Lembrando que o vermelho evoca o amor:



Que Pina continue permeando nossos sonhos e fantasias. Que o novo, o inédito, o espetacular... sempre estejam presentes nos nossos dias. Que o amor seja lembrado em cada gesto, em cada dor e que continuemos sempre assim:
AMANDO!!!
Acho que cada pessoa tem de descobrir isso por si só. Não se pode dar conselhos. Cada um tem sua maneira de coreografar. Claro que é muito bonito ter uma riqueza variada de possibilidades, alguma coisa ligando as diferentes artes. Mas não sei dizer se é ou não a melhor forma, podem ser muitas coisas juntas em harmonia. Formar escolas é perigoso, porque breca a fantasia. Me parece importante que as pessoas mudem os momentos de suas vidas. O sentimento sobre o que está acontecendo no mundo é sempre um novo momento.Pina Bausch